sábado, 26 de julho de 2025

A MORTE RESPEITA QUEM AMA VIVER.

 


Estava refletindo e lamentando o falecimento da cantora Preta Gil, e me veio à lembrança da minha tia Clemilda, que também partiu no ano passado, vítima de um câncer que começou na mama e se espalhou para o pulmão.

Minha tia viveu muito tempo com a doença. Continuou trabalhando, viajando, fazendo suas festas… até que, nos últimos dois anos, o câncer avançou e ela começou a sofrer demais. Partiu não querendo ir, mas deixou lembranças lindas neste mundo e em nossa família. Ela era muito amada no bairro onde morava. Sua quitanda era famosa na nossa rua. Criou laços fortes, com famílias e amigos.

Acredito que aqueles que estão predestinados a partir cedo se despedem da vida todos os dias. Vivem intensamente, deixam lembranças preciosas neste plano — e se tornam eternos.

Preta Gil, uma mulher à frente do seu tempo, teve uma vida breve neste plano, mas, assim como minha tia, viveu intensamente. Criou vínculos profundos e nos deu exemplo de força e coragem.

Toda a batalha contra o câncer que Preta enfrentou nos mostrou algo fundamental: nossos maiores amores são, muitas vezes, os nossos amigos. Ela se divorciou em meio ao tratamento, depois de ter sido traída e abandonada pelo marido, que não prestou nenhuma assistência quando ela mais precisou. E mesmo diante da dor, seguiu firme. Ela, que levantou tantas bandeiras ao longo da vida, nos deixou muitos ensinamentos — e o último foi mostrar ao mundo que a amizade vale muito. Nos fortalece. Nos salva.

Preta Gil e minha tia Clemilda tiveram o privilégio de se despedir da vida. Privilégio para poucos. Partiram podendo se despedir de quem amam, podendo perdoar, podendo dizer adeus — e também um muito obrigada.

A morte, quando chega dessa forma, é porque respeita pessoas como elas. Dá a chance de viver o que precisa ser vivido. Dá tempo de se preparar para partir. Porque a MORTE RESPEITA MUITO QUEM AMA VIVER.


(Na imagem: Iku, Orixá da morte).

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Uma alma descansou...

 



No dia 01 de julho, as 5 horas da manhã, acordei com a notícia do falecimento do meu irmão mais velho, Thiago Brunno. Depois da ligação desesperada da minha mãe, fiquei em estado de choque. Demorei pra chorar, mas quando chorei, desabei de uma vez,  logo depois, tive uma sensação de alívio. Mais tarde abri um jogo de tarô e as cartas me responderam dessa maneira: “O louco achou o seu equilíbrio” e eu compreendi que uma alma descansou.

A minha relação com o meu irmão era muito complexa. Já cheguei a odiá-lo muito, mas nos últimos anos voltei a amá-lo. Thiago sempre foi alguém muito desconectado desse mundo, uma criança inquieta, danada, um TDAH que nunca foi tratado.

Foi uma criança inquieta, um adolescente difícil e um adulto que se perdeu na jornada da vida. Teve o álcool como válvula de escape e encorajamento.  Sóbrio era calado e quieto. Tenho muitas lembranças boas da nossa infância, ele era tipo meu protetor, apertava minhas bochechas, brincava comigo...Lembranças essas que vou guardar pra sempre no baú de memórias da minha vida.

Na fase adulta nos distanciamos, nos desconectamos. Mas no fundo, aquele amor por aquele irmão da minha infância se mantinha, mesmo que suas escolhas na vida sempre tenham sido duvidosas ou antiética, as vezes. Na fase adulta o que mais nos conectava era a paixão por futebol, filmes e pelo Lula. Nossos papos sempre eram em torno desses assuntos. Meu irmão também era um grande leitor, lia de tudo. Gostava de quadrinhos e da Revista Super Interessante. Era inteligente. Tanto é que quando foi internado em uma clínica de recuperação, se destacou entre os demais, por conta da sua inteligência.

Hoje eu tenho a certeza que sua partida teve um propósito. Sua alma finalmente descansou. Morreu na Ilha Grande de Santa Isabel, cidade onde permeia toda a ancestralidade da minha família. Fui pra lá acolher minha mãe, rezamos o terço sete dia por sua alma e a última vela que acendi para ele, a chama se manteve sem se movimentar muito, ou seja, estava calma.

Sua alma hoje descansa em paz em outro plano que o espera para que ele possa ressignificar sua existência.

Descanse em paz, meu irmão! Nossa infância vai ficar pra sempre em meu coração!

Pra sempre!


Karlinha Ramalho