Estava refletindo e lamentando o falecimento da cantora Preta Gil, e me veio à lembrança da minha tia Clemilda, que também partiu no ano passado, vítima de um câncer que começou na mama e se espalhou para o pulmão.
Minha tia viveu muito tempo com a doença. Continuou trabalhando, viajando, fazendo suas festas… até que, nos últimos dois anos, o câncer avançou e ela começou a sofrer demais. Partiu não querendo ir, mas deixou lembranças lindas neste mundo e em nossa família. Ela era muito amada no bairro onde morava. Sua quitanda era famosa na nossa rua. Criou laços fortes, com famílias e amigos.
Acredito que aqueles que estão predestinados a partir cedo se despedem da vida todos os dias. Vivem intensamente, deixam lembranças preciosas neste plano — e se tornam eternos.
Preta Gil, uma mulher à frente do seu tempo, teve uma vida breve neste plano, mas, assim como minha tia, viveu intensamente. Criou vínculos profundos e nos deu exemplo de força e coragem.
Toda a batalha contra o câncer que Preta enfrentou nos mostrou algo fundamental: nossos maiores amores são, muitas vezes, os nossos amigos. Ela se divorciou em meio ao tratamento, depois de ter sido traída e abandonada pelo marido, que não prestou nenhuma assistência quando ela mais precisou. E mesmo diante da dor, seguiu firme. Ela, que levantou tantas bandeiras ao longo da vida, nos deixou muitos ensinamentos — e o último foi mostrar ao mundo que a amizade vale muito. Nos fortalece. Nos salva.
Preta Gil e minha tia Clemilda tiveram o privilégio de se despedir da vida. Privilégio para poucos. Partiram podendo se despedir de quem amam, podendo perdoar, podendo dizer adeus — e também um muito obrigada.
A morte, quando chega dessa forma, é porque respeita pessoas como elas. Dá a chance de viver o que precisa ser vivido. Dá tempo de se preparar para partir. Porque a MORTE RESPEITA MUITO QUEM AMA VIVER.
(Na imagem: Iku, Orixá da morte).
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